Foram 3.800 quilômetros rodados cruzando 5 estados norte-americanos. Tudo em 16 dias. |
A viagem, honestamente, superou minhas expectativas!
Este está sendo, sem dúvida, um ano especial em minha vida. Sob muitos aspectos. Um deles foi completar 40 anos (ui!).
No que toca à viagem digo que foi idéia minha. Sim, de alguma forma eu queria fazer uma viagem inesquecível com o Carlos e pensei muito naquilo que seria realmente impressionante para nós dois.
Num momento de loucura me passou pela cabeça fazer uma viagem de moto, na garupa, num lugar que eu achasse muito legal. Assim eu ficaria satisfeita por escolher o lugar e porque ele viajaria de moto.
Desisti alguns momentos depois porque não suportava a idéia de ficar fazendo nada sentada na garupa, fora o desconforto com tudo. Eu não gosto de ser garupa! #prontofalei
Então pensei numa loucura ainda maior: eu aprenderia a pilotar só para não ser garupa. E se era assim, poderíamos percorrer a Rota 66, que é considerada por muitos o Caminho de Santiago dos Harleyros, cada um em sua moto. Fiz a proposta ao Carlos e a resposta foi um sonoro "obrigado!!!" Hahahaha!
Daí por diante começou o trabalho de pesquisa sobre o que iríamos fazer, quais lugares visitaríamos, como alugar as motos, quanto tudo isto iria custar, o que era necessário levar etc etc etc. O Carlos também se empenhou bastante nestas pesquisas. Afinal, seria uma grande viagem e nós não teríamos o apoio de agência ou algo parecido.
E era assim que queríamos. Tenho uma certa aversão a pacotes de viagens e coisas que tais. Prefiro fazer o que quero quando tenho vontade e sempre acho complicado combinar os desejos de muitas pessoas. Por isso nos empenhamos em buscar a maior quantidade de informação possível e conversamos bastante sobre nossos desejos e expectativas, tanto as particulares quanto as comuns, para a viagem.
Acho que assim é que está certo. Conheço um montão de gente que apenas se junta às viagens planejadas pelos outros, sem agregar qualquer informação. Gente, o nome do sujeito que arruma tudo pra você numa viagem é "agente de viagens" e ele cobra para fazer isso, ok? Amigo é outra coisa!!!
Se estivéssemos em um grupo certamente teria sido complicada a decisão de mudar de sul para norte a volta depois de Santa Fé. Nossa primeira idéia era retornar pela fronteira com o México, passando por El Paso. À medida que o tempo foi passando a idéia de visitar Monument Valley foi ficando mais forte e optamos por voltar pelo norte. O motivo principal é que Monument Valley fica longe de tudo e talvez nunca mais tivéssemos a oportunidade de voltar. Eu não me arrependo nem um minuto.
Bem, junto com as pesquisas eu também me matriculei na moto-escola. Precisava da habilitação para alugar a moto nos EUA. Foi um grande desafio para mim, já que nunca havia nem ligado a moto do Carlos. Antes mesmo de estar habilitada ganhei a Lola, uma Sportster 883 Low linda!
Meu primeiro passeio oficial, aquele fora da pista no Ibirapuera ou dos quarteirões perto de casa, foi no dia 4 de julho. Saímos de casa para o Páteo do Colégio, centro de São Paulo, para uma exposição de motos antigas.
no dia do meu primeiro passeio... #tenso |
Ah! Não posso deixar de citar que nossa viagem não teria sido tão divertida sem o nosso "O" guia. Isso mesmo, "O" guia porque este não é um guia comum. Explico: numa de nossas visitas à Livraria Cultura encontramos perdido numa prateleira o guia "Let's Go Roadtripping USA, The complete coast-to-coast guide to America". Foi por meio deste guia que encontramos todos os motéis, restaurantes, lanchonetes e tudo o mais na Rota 66. Sem ele, certamente, teríamos nos limitado às armadilhas de turistas de sempre.
Em tempo: não vamos emprestar, alugar, vender, deixar dar uma espiadinha ou qualquer outra coisa em nosso sagrado oráculo. Foi uma das melhores aquisições que fizemos e não vamos por em risco nossas futuras viagens. "O" guia já está devidamente guardado num local que só nós dois sabemos. Kkkk! Sem brincadeira: vale a pena adquirir este guia se você pensa viajar, de moto ou de carro, pelas estradas dos EUA. Clica no link pra maiores informações, ok?
Alguns amigos ficaram meio assustados quando contamos que seriam 16 dias viajando de moto. Eu entendo. As pessoas normalmente viajam para chegar a um destino e ficar lá por algum tempo aproveitando a cidade etc, mas este não era nosso objetivo. A estrada era o ponto principal. E acertamos em nossa escolha.
Passei por momentos estressantes, como a saída da Eagle Rider em Los Angeles, quando encarnei o Exterminador do Futuro que existe dentro de mim (??) e apenas pensei que tinha que acelerar a moto para cruzar dezenas de freeways para chegar a I-15 em direção a Barstow.
Outros momentos foram de puro cansaço e esgotamento e, então, eu pensava que Clint Eastwood já havia cruzado aqueles desertos a pé e sem água, como quando encarnou Blondie em "The Good, the Bad and the Ugly", de Sergio Leone. Notem que eu "delirei" algumas vezes durante a viagem...
Em Barstow, CA |
E vivi alguns instantes de puro deleite, como quando cruzamos o trecho da Rota 66 de Kingman até Ashfork, ou a travessia da estrada do cânion em Los Alamos com umas 4 curvas em ferradura à direita e umas 6 à esquerda desviando dos veados que cruzavam a pista, ou na travessia do Monument Valley, lugar mais lindo que já vi.
Conhecemos pessoas fantásticas, sempre interessadas, querendo saber detalhes de nossa viagem e dispostas a ajudar no que fosse. Recebemos muitos sorrisos e eles sempre se despediam com um "have a nice trip" ou "have a safe trip". E eu acredito que o desejavam de coração.
Vallez Caldera, NM |
Em Winslow, AZ |
Na Route 66 |
Monument Valley, UT |
Enfim, rodamos 3.800km com as motos em 16 dias! Incrível!
Coisas ruins também aconteceram como os equipamentos encomendados que não estavam disponíveis, o que nos fez perder tempo de lazer e descanso em Los Angeles, mas nada que nos fizesse perder o bom humor. Também o problema com o aluguel das motos na EagleRider, mas já falamos sobre isso. E outras coisas.
O pior foi ter que mandar sacrificar nossa cachorrinha enquanto estávamos lá. Ela já estava bem velhinha e bastante debilitada quando saímos e tivemos que tomar a decisão mesmo tão distantes. Ainda bem que ela estava com minha irmã e sobrinho quando tudo aconteceu. Tenho muito que agradecer a eles o carinho com que a trataram. Amaremos a Layla para sempre! Linda!
A Layla, ainda filhote, em 1995... |
O Dick se foi em fevereiro deste ano, outro grande companheiro. Fica aqui nossa homenagem aos dois. |
As outras duas ficaram por conta da nossa empregada e de um passeador de cachorros que se demonstrou um péssimo profissional. De novo foi a minha irmã que segurou as pontas. Obrigada novamente!
Apesar de tudo foi uma grande viagem e os contratempos fazem parte dela. Eu volto realmente encantada com os Estados Unidos e os americanos, apesar de tudo o que aprendi sobre eles. Sim, nasci em plena ditadura e cresci ouvindo que são burros, grosseiros, que se acham os donos do mundo, que sua comida é horrível etc. Pode até ser que alguém acredite nisso, mas eu discordo frontalmente. Fui muito bem tratada, bem atendida, comi bem, fiquei boquiaberta com o trânsito, a educação, o respeito, com a esmerada e rápida prestação de qualquer serviço e com o reconhecimento de um serviço mal prestado. Amei!
A beleza das paisagens que visitamos também é impressionante. O cuidado com a manutenção dos lugares, das estradas, a limpeza das cidades, tudo impressiona. E impressiona bem. Eu gostei. Tudo funciona! Duvido que, por aqui, com paisagens igualmente espetaculares, alguém consiga rodar 3.800km por ótimas estradas. Uma pena!
Agora, minha opinião (Carlos).
Nada disto teria sido possível sem a Jackie, mulher maravilhosa, de humor difícil como as mulheres maravilhosas são, perfeccionista, às vezes irritante, mas sempre com o humor (ácido, claro) a contrabalançar tudo isto, fora o bom senso fora do comum.
Ela encarou tudo com uma coragem que eu mesmo não sabia que havia dentro dela. Aprendeu a pilotar, não reclamou de nada (só de mim, mas isto não conta), soube levar as situações adversas com determinação e com humor.
Acreditei nela por um simples motivo: ela disse que faria e, se disse, eu sabia que faria mesmo. Não tive o menor receio em levá-la comigo, mesmo com o pouquíssimo tempo de vôo dela.
Voltou indignada tanto com a falsa idéia que normalmente temos dos norte-americanos tanto quanto com o potencial não realizado de nosso país e o quanto temos a aprender com eles. Sim: são mais educados; têm uma curiosidade incrível e benigna; têm, sim, senso de humor muito apurado. E há duas coisas que poderíamos aprender com eles: orgulho de seu país e profissionalismo extremo em tudo o que fazem.
Os lugares em que estivemos não são famosos à toa. Pode-se pensar que muitos deles são fruto do marketing hollywoodiano, mas não é. Ao contrário, o cinema não consegue retratar tudo aquilo de forma fiel. Fica devendo, e muito.
Sentimos falta do Magnus, amigo que conhecemos no Forum-HD e que mudou-se para os States há uns dois anos. Ele tentou encontrar-nos em Santa Fe, mas, por motivos de trabalho, não conseguiu, infelizmente. Ele nos ajudou muito quando da compra do GPS e outras coisas e, principalmente, nos incentivando e oferecendo suporte, caso precisássemos. Claro, vamos querer encontrá-lo no ano que vem, é só questão de combinarmos as datas e locais.
A viagem em si foi nosso próprio destino, bem à maneira zen. O caminho é mais importante que o destino, coisa que nos esquecemos a todo e qualquer instante. Se percebemos isto, aproveitamos a vida. Se não, chegamos ao nosso destino sem saber porque chegamos lá (quando conseguimos chegar, claro) ou mesmo porque estávamos indo.
Poderíamos ter feito qualquer roteiro, mas este, em particular, foi fantástico. A própria Route 66 tem esta aura de estrada-mãe, de ser, ao mesmo tempo, meio e fim. Passamos um bom trecho nela e, quando a deixamos, provisoriamente, já tínhamos assimilado a lição.
Pilotar uma moto tem disto, também. Você vira parte da paisagem. É mais frágil que alguém em um carro, mas também é mais poderoso. É seu corpo controlando o movimento, o equilíbrio, a direção, o caminho. Você também desenvolve uma confiança infinita nas pessoas que estão a seu lado.
Você não mede as conseqüências de sua experiência em cima de uma moto, esta experiência vale qualquer risco e você aprende que os riscos não existem, existem apenas os seus medos. E que seus medos também não existem.
Hoje mesmo falei de você, Jacque, pro Márcio, meu marido. Falei que vc era uma "amiga de twitter". Parece algo vagabundo, sem pedigree, mas eu não sou mesmo desse tempo, assim como você. Pois esse seu relato me arrepiou porque me vi em todos os parágrafos. Também não seria garupa numa viagem dessas, também gosto da minha independência e detesto pacotes de viagem, também sou eu que sugiro as coisas, também luto pelo que quero por mais que todos digam que é loucura. Também não emprestaria meu guia de jeito nenhum, por mais que isso seja considerado antipático. Vibrei aqui quando li isso!! E também fiz 40 em 2010. Acompanhei a viagem de vocês e estive nessa garupa fantástica. Entendo seus medos e admiro você principalmente por ter encarado todos. Ou seja, daqui pra frente, vou dizer que sou sua amiga, ponto final. Não precisa ser você minha amiga, se não quiser. Admiro você e quero sempre saber o que se passa contigo, na base da admiração de mão única. O Carlos é um cara de sorte. Acho que você também é uma mulher de sorte, porque passei a admirar também o Carlos pelos relatos e a preocupação contigo. E pelo espírito esportivo de ambos, parabéns!! Linda viagem, lindos relatos, lindos vocês.
ResponderExcluirMuito legal o todos relatos de vcs, até me deu vontade de ir AGORA lá fazer essa rota hehehe!.....mas falando sério, deve ter sido muito legal fazer uma viagem dessas, ainda mais em cimda de uma HD, parabéns mais uma vez!!!
ResponderExcluirAh....meus pêssames pela cachorrinha... :o(
O melhor foi fazer a viagem em cima de DUAS Harleys! Hahahaha!
ResponderExcluirObrigada por tudo, mas o blog não vai parar, ok? Dia 16/10 tem o II Ladies of the road e pretendemos continuar contando as viagens e falando de outros temas relacionados com motos. Pode mandar pauta quando quiser!
A Layla e o Dick sempre serão lembrados...
[]s
Muito obrigada, querida AMIGA! Maravilha vc ter gostado do blog. Sei que nossa viagem não agrada a todo mundo e, por isso, não seria bom estar num grupo. A maioria se diverte com coisas diferentes de um motel dos anos 30 localizado na beira da Rota 66 ou com a lanchonete que James Dean frequentou. Mas nós adoramos tudo!
ResponderExcluirÉ um tanto antipático não emprestar o guia, né? Mais antipático ainda é eu te confessar que temos uma pequena listinha de pessoas que conhecemos e que, para elas, faríamos uma exceção! Hahahaha! Fazêoquê??? Tem gente que merece, tem gente que não!
Também é maio antipático dizer que não gostei de Las Vegas nem da multidão de turistas na Hoover Dam. Mas essa também é minha opinião. Ponto. E ter um blog é maravilhoso, né não????
Acho que não poderia ter celebrado meus 40 anos de outra forma. Foi a melhor e mais maluca idéia que eu tive... e foi brilhante! O Carlos fez aniversário enquanto estávamos lá... na estrada... muito legal!
Amiga, vou pegar o Carlos e a Lola e te visitar aí qq dia. Pode?
Beijos
Vem sim! Se bem que a gente tá pra ir a SP ainda este ano. Vamos ver...
ResponderExcluirEu também me divirto com pouco e com não obviedades, entendi o lance de Las Vegas e acho que teria detestado igual. Nada como a autenticidade de uma estrada linda para deixar qualquer um seletivo diante de letreiros fake. Entendi perfeitamente!
Vocês escrevem bem, podem e devem ter um blog pós-aventura.
Obrigada por tudo! Obrigada pelo nome do blog, né? Você Já estava com a gente desde o início. Se vier a SP avise, por favor! tomara que seja logo! Bj
ResponderExcluiracompanhei os posts sempre e adorei os detalhes da viagem.....inesquecível realmente e parabéns para você Jackie por tudo o que aprendeu, superou e se divertiu.
ResponderExcluirPorém a nota sobre a Layla me encheu de tristeza....sempre penso no dia em que terei que enfrentar isso com a Bibi e é muito duro mesmo.
Beijos grandes para vocês, Celia
Obrigada, Célia! Foi tudo muito bacana mesmo. Já saímos daqui com o peito apertado por causa da Layla, mas felizmente sabíamos que ela estaria bem cuidada pela Patrícia e pelo João Pedro. Foi muito duro estar longe, mas não tivemos muita escolha e só queríamos que ela ficasse bem. E deve estar... Bjs
ResponderExcluirLegal!....já to virando frequentador assíduo do blog de vcs! hehehe
ResponderExcluirPódexá q não vou parar de dar umas bisbilhotadas por aqui.
[]s
Valeu, brigadão, Glaucius!
ResponderExcluir[]s
Carlão
Jackie:
ResponderExcluirpreciosas vuestras palabras. Me ha conmovido leer vuestro relato. He seguido de manera intermitente vuestro recorrido (por falta de tiempo y no de ganas), pero tanto el diario como las imágenes reflejan claramente lo especial que ha sido esta aventura para vosotros.
Estoy muy feliz por ti, amiga.
Como bien dice Carlos: eres una persona maravillosa, que nunca se te olvide.
Beijo
Muchas gracias, querida Amiga. Muy pronto espero hacer un recorrido con Carlos por España. ¡Besitos!
ResponderExcluirValeu, Carlos! Parabéns pela adventure trip, essa não sai +++ da memory de vcs. Bela decisão de ter ido atrás do Monument Valley. Com ctz é um lugar raríssimo no mundo que não valeria a pena ter sido deixado de lado. Abraco! Sergio
ResponderExcluirRealmente, garoto!
ResponderExcluir[]s
Carlão